Nestes tempos tão desafiantes, a literacia financeira é fundamental

assegura Cristina Amorim, CFO da Corticeira Amorim.

Em 2020 assinalámos 150 anos de atividade económica, sempre ligada à transformação desta matéria-prima natural, inimitável e sustentável: a cortiça. Um material singular que conhecemos como ninguém, cujo leque de aplicações ampliamos dia após dia, concretizando, assim, a nossa missão de acrescentar valor à cortiça, de forma competitiva e inovadora, em perfeita harmonia com a Natureza. São 150 anos de grandes conquistas, de enormes desafios, de infindável trabalho, de tenacidade e audácia: dos fundadores aos nossos dias, quatro gerações da Família Amorim e de muitas outras Famílias e Pessoas que connosco construíram a Corticeira Amorim, líder mundial da indústria da cortiça.

A perseverança de todos – em particular nos momentos de grandes desafios e de grandes constrangimentos – tem sido crucial e inspiradora. Foi assim durante as duas Grandes Guerras, foi assim durante os graves incêndios que assolaram a nossa empresa na década de 40 do século XX. É assim durante esta grave pandemia cujas consequências, juntos, tentamos conter, protegendo as nossas Famílias e Comunidades. Gerações sucessivas de Colaboradores e Colaboradoras partilham esta nossa cultura: de responsabilidade, de superação, de respeito.

Da iniciativa empreendedora de António Alves Amorim aos nossos dias, fomos sedimentando uma sólida cultura empresarial. A paixão pela cortiça é a nossa inspiração; o orgulho que temos no nosso passado impele-nos a fazer sempre mais e melhor; a responsabilidade que assumimos – perante os que nos antecederam mas, sobretudo, em prol dos que nos sucederão – conduz o nosso propósito de contribuir para um futuro melhor, mais natural, mais seguro e sustentável.

No caso da Corticeira Amorim, empreender é uma constante. O sucesso empresarial está intrinsecamente ligado à nossa capacidade coletiva de conhecer melhor a cortiça e as suas virtualidades. O mercado tem muitas ameaças e muitas oportunidades – no nosso dia a dia, empenhamo-nos em acautelar as primeiras e em antecipar e criar as segundas. Inovação, investigação, investimento, criatividade e trabalho materializam a nossa visão e estruturam transversalmente a nossa atividade.

E, se a audácia sempre foi um propulsor da nossa atividade, conduzindo-nos para operações mais complexas e potencialmente geradoras de maior retorno, seja em rentabilidade, seja em ampliação de mercados, seja em maior eficiência operacional, também é verdade que o equilíbrio e a prudência também são uma constante. Empreendemos assumindo um risco calculado, um risco consentâneo com a nossa cultura, procurando sempre manter o adequado equilíbrio financeiro do Grupo. A solidez do nosso balanço permite-nos aceder a financiamento; a natureza sustentável do nosso negócio permite-nos inclusive ter instrumentos financeiros “verdes”; mas empreender não depende apenas de ter liquidez disponível – depende de uma análise criteriosa, prudente e prospetiva dos custos/benefícios dessa ação empreendedora. Resumindo: propósito, estratégia e prudência!

Ao observar o nosso mundo, a nossa sociedade, as nossas comunidades, parece-me que atualmente se fala muito sobre estratégia, mas falta o conhecimento do risco e a necessária prudência na sua análise. O que obviamente afeta o equilíbrio financeiro: das empresas, das instituições, das start-ups, das famílias.

O vasto leque de produtos financeiros que temos ao dispor, o fácil acesso à aquisição de bens e serviços a crédito, a desvalorização da poupança (enquanto valor e enquanto atitude) e a reduzida literacia financeira têm contribuído para o sobreendividamento das Famílias.

No Portugal “tradicional”, a educação financeira básica aprendia-se no seio das Famílias: a regra era poupar; o corolário era não gastar o que não se tinha. Nas últimas décadas, a propensão para a poupança foi-se reduzindo, o crédito pessoal foi-se generalizando, com um conjunto de regras e condições ignoradas ou incompreensíveis para os devedores. Esta foi uma mudança radical e o sistema de educação não estava preparado para contribuir construtivamente para a cultura financeira de crianças e jovens. E, exceto pelos cursos especializados na área financeira e áreas correlacionadas, pelos quais envereda uma pequena percentagem dos nossos jovens, receio que ainda não esteja preparado. Muito menos para o advento de instrumentos e mercados financeiros mais complexos, de fácil acesso e ainda pouco regulados, como as moedas e os mercados digitais. Pessoalmente, vejo esta situação com alguma apreensão. Estas novas formas de investimento são atrativas e, de certa forma, aditivas. Não conhecer os seus riscos e, ainda assim, investir pode levar a grandes perdas.

Creio que os primeiros conceitos de gestão financeira começam com o mote que a Fundação António Cupertino de Miranda bem conhece e, de forma entusiástica, propaga a um número crescente de crianças e jovens, no seu valiosíssimo programa de literacia financeira No Poupar Está o Ganho. É por aqui que começa – na poupança; de seguida, no conhecimento – saber avaliar o potencial de rendimento e de risco associado a um determinado investimento; e, depois, na planificação – determinar o que pretende investir, como vai investir e acompanhar a execução dessa estratégia de investimento, diversificar as aplicações, em consonância com o seu perfil de risco, mantendo uma reserva de segurança, porque imprevistos acontecem – até aos mais prudentes.

Nestes tempos tão desafiantes, considero fundamental a literacia financeira e a responsabilidade individual de todos nós de, efetivamente, tomarmos conhecimento das condições associadas aos produtos em que estamos a investir: do cartão de crédito, ao contrato de seguro, do descoberto autorizado ao fundo de investimento… Escolhas informadas conduzem a escolhas mais acertadas.

Felizmente, temos também notícias de muitos jovens que iniciam muito cedo a sua atividade empreendedora, muitos deles com notável sucesso. O mundo está cheio de oportunidades – a digitalização da economia, os novos modelos colaborativos, as novas formas de organização de trabalho e da sociedade estão na sua infância e, até ao desenvolvimento pleno das suas potencialidades, muitos interfaces, muitas aplicações, muitas pequenas-grandes mudanças vão ser necessárias. E as gerações mais jovens, tecnicamente mais bem preparadas, mais criativas e informadas estão certamente em condições privilegiadas para as aproveitar. E, muitas delas, nem necessitarão de grandes meios financeiros. E, às que precisarem, não faltarão business angels ou venture capital para as apoiar.

Uma boa ideia de negócio está sempre na génese de um negócio com futuro. Foi assim que o meu trisavô, António Alves Amorim, iniciou o Grupo Corticeira Amorim.