A Literacia Financeira é fundamental para a construção de uma sociedade mais informada e capacitada

afirma, José Maria da Cunha Costa, Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo.

Como é que iniciou o percurso na política? O que é que o trouxe a esta função de serviço público?

De formação, sou Engenheiro Químico, tendo sido quadro superior dos extintos Navais de Viana do Castelo entre 1986 e 1994. Entrei na vida política como adjundo do anterior Presidente da Câmara, Dr. Defensor Moura, tendo ocupado essa função entre 1994 e 1997.

Fui, posteriormente, Vereador da Câmara Municipal entre 1998 e 2009 com os Pelouros do Ambiente, Desenvolvimento das Freguesias, Área Social e Desenvolvimento Económico. Nesse ano, fui eleito Presidente da Câmara, função que continuo a assumir com elevada dedicação doze anos depois, naquele que é o meu terceiro e último mandato.

Estou, como sempre estive, na vida pública, com sentido de responsabilidade e de entrega aos vianenses e o que sempre me moveu foi a vontade de melhorar a vida dos meus concidadãos em áreas fundamentais e tão diversas como a saúde, a economia, as infraestruturas ou a cultura.

Como vê o tema da literacia financeira e da sua relevância na construção de uma sociedade mais informada e capacitada para a tomada de decisões relacionadas com a gestão orçamental e gestão das suas finanças pessoais?

A Literacia Financeira é fundamental para a construção de uma sociedade mais informada e capacitada já que permite a aquisição e o desenvolvimento de conhecimentos e de capacidades que se apresentam como cruciais para a tomada de decisões conscientes, que no nosso presente quer no futuro. É através da literacia financeira que tomamos consciência das nossas finanças pessoais, aprendendo a geri-las com o cuidado necessário. Ficamos, pois, mais habilitados enquanto consumidores de produtos e serviços.

Importa reconhecer a importância de gerir de forma cautelosa as finanças pessoais, para podermos viver com mais tranquilidade, tal qual tem um Presidente de Câmara de fazer quando pensa e programa a gestão financeira do seu Município.

Que papel considera que a autarquia deve ter no âmbito da promoção da literacia financeira, sobretudo junto dos mais jovens? Que ações têm concretizado neste âmbito?

A autarquia, enquanto instituição que visa assegurar o presente e o futuro da sua comunidade, deve zelar pela literacia financeira de toda a população, com especial destaque para os mais jovens.

Com este objetivo, o Município de Viana do Castelo tem promovido a literacia financeira junto das crianças e contribuído para a sensibilização da importância da gestão do orçamento familiar. Para tal, temos contado com a importância do projeto “No Poupar está o Ganho”, junto das escolas do concelho.

As nossas crianças do pré-escolar, 1º, 2º e 3º ciclos do ensino básico e secundário têm, assim, participado no concurso que promove a educação financeira dos estudantes, constituindo-se a educação financeira como uma ferramenta indispensável para a formação cívica e cultural nas nossas escolas.

Que mudanças acha que poderíamos reconhecer no estado económico e social português, se a educação financeira fosse uma prioridade?

 Parece-me fundamental incutir a necessidade da Educação Financeira, principalmente junto das nossas crianças e jovens. É crucial que os nossos estudantes tenham noção da importância do dinheiro e da sua boa gestão e que, desde tenra idade, sejam educados para a importância de planear o presente e o futuro.

A educação financeira é um instrumento indispensável para a formação cívica e cultural das comunidades, pelo que me parece necessário estimular a capacidade de reflexão individual e coletiva, trabalhando o pensamento crítico e conferindo aos cidadãos as ferramentas necessárias para uma gestão financeira adequada.

Deveríamos, acima de tudo, criar projetos que desenvolvessem padrões comportamentais de autocontrolo, organização, planeamento, disciplina, sempre numa lógica de autoconhecimento e perspetiva temporal. Acredito, mais uma vez, que o segredo passa por ensinar às nossas crianças e jovens a importância de gerir de forma adequada as finanças. Os pais e educadores têm também um papel essencial nesta missão, devendo ensinar os mais jovens a gerir uma pequena semanada ou mesada deste bem cedo, para que percebam como devem lidar com o dinheiro, de acordo com os seus diferentes objetivos – a curto, a médio ou longo prazo.

Tendo já desempenhado diversos cargos em diferentes indústrias, como observa os perfis dos jovens a entrar recentemente do mercado de trabalho?

Os jovens que estão atualmente a entrar no mercado de trabalho são, acima de tudo, jovens ambiciosos, com elevada formação e que traçam objetivos para o seu futuro. A juventude da atualidade é uma juventude que investe na formação superior e que, por isso, pretende um emprego qualificado, que valorize os estudos e formação adequados.

Como descreveria a relação dos nossos jovens com o dinheiro – nas suas diferentes facetas (investimento, finanças pessoais, etc)?

Cada vez mais temos uma juventude melhor preparada, que pensa mais no futuro, com mais ambição. Acredito que os jovens da atualidade são ponderados, organizados e cautelosos, o que se reflete nos investimentos que fazem e nas finanças pessoais.

A juventude investe no seu futuro, estudando e trabalhando ao mesmo tempo, pagando o seu curso superior, complementando a licenciatura com mestrados e doutoramentos, sempre a pensar num futuro mais promissor. Acredito, pois, que os jovens são ponderados, mas que arriscam e investem a pensar no dia de amanhã, o que demonstra a garra e determinação que têm.

A pensar nas famílias, no seu parecer, como é que a educação parental pode impactar a percepção e gestão das finanças pessoais e perspectivas futuras de um jovem?
Todos sabemos que a família é a base da nossa educação e formação. Por isso mesmo, a educação parental impacta de forma decisiva a forma como gerimos e vivemos as nossas finanças. A aprendizagem faz-se muito pelo exemplo que recebemos dos nossos pais, pelo que é essencial que a educação parental seja no sentido de esclarecer os jovens, ensinar-lhes o valor do dinheiro e a forma como o devemos gerir para que possamos viver de forma tranquila.

Independentemente dos rendimentos auferidos, todos os pais devem ensinar aos seus filhos o valor do dinheiro, o trabalho e o esforço que temos de fazer para o receber. Os jovens não devem dar o dinheiro como um bem adquirido, devem perceber, desde bem cedo, que as coisas têm um preço e que, para pagarmos esse preço, temos de trabalhar.

O empreendedorismo tem vindo, igualmente, a ter destaque nas gerações mais novas. Qual é o motor da criatividade destas atividades empreendedoras jovens?
Os jovens da atualidade são aguerridos, ambiciosos, dinâmicos e criativos. Por isso, é com naturalidade, mas entusiasmo, que assisto à criação de diversos projetos e empresas por parte da juventude. Os jovens querem fazer a diferença, querem investir em ideias diferentes e desafiadoras, quem “mudar o mundo”.

Para estimular toda esta criatividade, Viana do Castelo promoveu, agora em abril, candidaturas a dois concursos – Viana Jovens com Talento e Viana Jovens Empreendedores.

Com o projeto Viana Jovens Empreendedores pretende-se fomentar a criação de novos projetos empreendedores, podendo ser projetos dirigidos à cidade e ao público em geral ou projetos que tenham como objetivo criar uma marca, uma empresa ou implementar uma ideia inovadora que esteja há muito fechada na gaveta por falta de disponibilidade financeira. Pretende-se promover a seleção de ideias/projetos, em torno dos quais se perspetive a criação do próprio emprego; capacitar os empreendedores no desenvolvimento e melhores das suas ideias/projetos, dotando-os de ferramentas que lhes permitam validar/consolidar as mesmas e apoiar a criação de emprego e a fixação de pessoas, bens e serviços em Viana do Castelo.

Já o concurso Viana Jovens com Talento pretende dar asas à imaginação e ao talento. Neste concurso inserem-se todos os projetos diretamente relacionados com as diversas artes: música, dança, pintura, escultura, teatro, literatura, cinema, fotografia, digital, multimédia, e tudo o que permita pôr a imaginação em prática e os sentimentos a descoberto.

Perante o panorama económico e social em que nos encontrarmos, que sugestões daria aos jovens no que toca à sua própria gestão financeira?

Penso que será importante apostar, acima de tudo, na formação. Os jovens devem pensar no futuro, investir na sua qualificação e diferenciação, apostando naquilo que os torna únicos e especiais. A nível financeiro, devem ser capazes de programar o presente e o amanhã, de acordo com os seus rendimentos. Parece-me que as finanças devem ser tratadas com ponderação, mas também devemos apostar no auto-conhecimento e na formação pessoal, seja esta obtida através de um curso, de workshops ou uma viagem que nos traga cultura e conhecimento.

Que impacto considera que o atual contexto que vivemos, marcado pela pandemia COVID-19, terá no panorama económico-social nos próximos anos e de que forma a literacia financeira pode ser uma ferramenta importante para gerir as oportunidades e dificuldades que dele advêm?

A pandemia que todos estamos a viver trouxe-nos a incerteza. Por isso mesmo, mais do que nunca, a literacia financeira assume-se como uma ferramenta indispensável para a gestão dos nossos rendimentos. Muitos empregos, infelizmente, foram perdidos em contexto de pandemia. Nessa situação de insegurança, importa conseguir ter um “pé de meia”. Por isso mesmo, espero que esta situação tenha alertado para a necessidade de se programar o futuro. Acredito que muitos portugueses terão adquirido hábitos de consumo e de poupança durante este período e creio que esta dificuldade que todos sentimos foi, por isso, uma oportunidade para o surgimento de novos hábitos e costumes de maior ponderação e autocontrolo.