Dinheiro é um instrumento para criar valor económico e social

Paulo Azevedo, Presidente do Conselho de Administração da Sonae SPGS, salienta "Dinheiro é um instrumento para criar valor económico e social"

Acredita que uma relação equilibrada desde terna idade ajuda a ser um cidadão e um profissional mais bem preparado para o futuro. De forma a entender como o dinheiro influenciou a sua vida e o seu percurso profissional, a Fundação Dr. António Cupertino de Miranda falou com o empresário Paulo Azevedo. Empresário que aos treze anos fez o seu primeiro orçamento anual. Sem saber bem como, o Engenheiro Químico de formação, dá o salto para analista de novos investimentos na Sonae – Tecnologias de Informação, em 1988, “talvez porque lhes pareceu que eu devia saber nadar”!

Fundação Dr. António Cupertino de Miranda – Sendo um empresário de sucesso, em que circunstâncias e em que idade se começou a interessar pelo dinheiro?

Paulo Azevedo - Não sei se isto terá tido influência na minha carreira, mas lembro-me de pensar sobre dinheiro desde as minhas primeiras memórias. Os meus pais deram-nos um pequeno cofre para pouparmos a nossa semanada que era guardado num cofre maior. Tinha uma certa obsessão com números e de imediato (tanto quanto me lembro) comecei a interessar-me por fazer as contas de quanto tinha e quanto tempo demoraria a chegar a determinadas metas.

FACM - O facto do seu pai ter sido um grande empresário, teve influência na sua relação com o dinheiro?

PA - Acho que não, porque o meu pai não era ainda um grande empresário quando eu era novo. Acho que me influenciou muito porque era uma pessoa poupada, de origens humildes, que dava muito valor à boa gestão do dinheiro e também gostava muito de matemática. As pessoas riem-se com esta história, mas aos treze anos fiz o meu primeiro orçamento anual!

FACM - De que forma transmitiu estes ensinamentos e valores aos seus filhos?

PA - De uma forma parecida, mas um pouco mais adaptada aos novos tempos e ao facto de viverem numa envolvente que não ajuda nada porque quase toda a gente à volta deles tem muito dinheiro e relativamente pouco cuidado em gastá-lo bem. Talvez o mais importante tenha sido os meses que vivemos todos juntos no interior de Moçambique. Os meus filhos hoje já são adultos ou quase, mas nos últimos anos em que tive alguma influência tentei que olhassem para todos os recursos naturais com a mesma lógica de dar valor e preservar.

FACM - De que forma a sua relação com o dinheiro, influenciou a estratégia e a atividade diária do Grupo Sonae?

PA - Acho que encaixei muito bem com os valores que já existiam - a frugalidade e a crença que o dinheiro era um instrumento para criar valor económico e social.

 

Modelo capitalista só funciona se as empresas gerarem valor para todos os seus ‘stakeholders’

 

FACM - Segundo a sua experiência de que forma podem as empresas beneficiar com ações socialmente responsáveis?

PA - Hoje está claro que o modelo capitalista só funciona se as empresas assumirem que a sua responsabilidade é de gerar valor para todos os seus ‘stakeholders’ (envolvidos) e que não podem gerar valor económico à custa do valor social ou de qualquer bem comum. Para isso é fulcral como se desenvolve a atividade económica. Mas, muitas atividades ainda não são possíveis de exercer sem causar efeitos indesejados. Por isso, as empresas tem obrigação de compensar de forma a que possam verdadeiramente dizer que acrescentam globalmente. É um longo caminho mas felizmente a tomada de consciência que o modelo de maximizar só lucros falhou aconteceu. Teria sido melhor que tivesse acontecido mais cedo e agora vamos ter que correr mais.

FACM - Que tipo de projetos promove a Sonae no âmbito da sua política de responsabilidade social?

PA - Teriam que me conceder uma entrevista muito maior! É uma lista mesmo muito grande impossível de resumir sem ser injusto com os projetos maravilhosos que ficariam sempre de fora. Por áreas posso dizer que a que tem a maior dimensão é a ajuda a quem mais precisa (mais de 450 instituições de Solidariedade Socias apoiadas), a cultura e a saúde. Também a educação ainda que aqui essencialmente através da Fundação Belmiro de Azevedo.

FACM - Qual a importância deste tipo de projetos face ao atual contexto económico e social, decorrente da pandemia de Covid-19?

PA - Em todas as crises surgem muito mais dificuldades onde antes não existiam, e por isso é mais importante ainda ter a capacidade de aumentar a ajuda. Infelizmente a maioria das empresas foi também muito afetada e muitas não tiveram sequer hipótese de manter os apoios que tinham. No caso da Sonae, a área alimentar e as telecomunicações tiveram condições para aumentar os seus contributos, assim como teve também a Fundação Belmiro de Azevedo. Outras das nossas empresas, mesmo em condições económicas bastante piores, arranjaram maneira de o fazer, como por exemplo, a cedência gratuita do Hotel Porto Palácio para os profissionais de saúde no choque da primeira vaga.