Ser empreendedor é saber lidar e gerir o risco
Considera-se uma pessoa poupada. Diz sempre que “quando investe num negócio, é para ganhar dinheiro”, pois “cada negócio tem de ter a capacidade de ser viável por si mesmo”. E assegura que “ser empreendedor é saber lidar e gerir o risco. Nem todos os negócios vão ter sucesso. E é importante estarmos conscientes disso mesmo”. Mais, “quando nos lançamos numa nova área de negócio, não o fazemos sem um trabalho prévio de análise do setor, das tendências, da concorrência, e, muito importante, da nossa capacidade de criar uma oferta diferenciada e de sucesso”. Falamos de Mário Ferreira, CEO da Pluris Investments, detentora da conhecida empresa de cruzeiros turísticos Douro Azul.
Fundação Dr. António Cupertino de Miranda – Sendo um empresário de sucesso, em que circunstâncias e em que idade se começou a interessar pelo dinheiro?
Mário Ferreira - Posso dizer que tive sempre um respeito muito grande pelo dinheiro, fui sempre muito poupado.
FACM - Mário Ferreira nasceu em Matosinhos e cedo navegou para outras águas. Ainda no fim da adolescência, foi para o Reino Unido trabalhar. O que originou esta saída de Portugal? Quais as suas motivações?
MF - Saí de Portugal para o Reino Unido à procura de novas experiências profissionais e culturais. Tinha uma enorme vontade de conhecer o Mundo e de conhecer novas culturas. Atualmente, a distância cultural entre Portugal e o Reino Unido, ou os Estados Unidos, não é tão evidente graças a tecnologias como a Internet que aproximam as pessoas e as culturas. Mas na altura, o impacto e a diferença eram enormes. Sair de Portugal, naquela época e ainda jovem, permitiu-me crescer culturalmente de uma forma que não seria possível se por cá ficasse. É uma experiência, a de sair do país e viver em outros pontos do Mundo, que recomendo pelas aprendizagens que nos traz.
FACM - Com que idade criou o seu primeiro negócio?
MF - Assim que regressei a Portugal, com 24 anos, depois de trabalhar em Londres e em cruzeiros à volta do Mundo, criei o meu primeiro negócio, um restaurante em Matosinhos. Desde então não parei de criar negócios sempre que vejo uma oportunidade em que acredite.
FACM - O facto de ter tido contacto cedo com “bastante dinheiro”, fez com que fosse uma pessoa ambiciosa e cuidadosa na aplicação do seu dinheiro? Acha que isso contribuiu para ser o empreendedor que é?
MF - O ser cuidadoso com os investimentos e com a forma como giro o dinheiro foi algo que aprendi desde cedo com os meus pais. Não me considero ambicioso, no sentido de ser alguém que quer sempre ter mais, mas sim no sentido de quem está sempre à procura de novas oportunidades. E é essa vontade de criar algo de novo, que me contribui para ser empreendedor.
Não tenham vergonha de perguntar e testar a ideia antes de se lançarem
FACM - Sempre disse que “quando investe num negócio, é para ganhar dinheiro”. E que não acredita “em estar a tirar dinheiro de outros negócios para sustentar uma coisa que não tem viabilidade”. É essa a chave do seu sucesso?
MF - Pode ser considerada uma das chaves. Não faz sentido para mim, falemos de milhões ou milhares, que um investimento não seja avaliado pela sua capacidade de gerar retorno. Caso contrário não é um investimento. Quando temos um grupo, como é o caso da Pluris Investments, não podemos fazer depender a viabilidade de um negócio nos resultados positivos das restantes áreas. Cada negócio tem de ter a capacidade de ser viável por si mesmo. Obviamente, quando trabalhamos em rede e criamos sinergias facilitamos esse trabalho.
FACM - Hoje é Presidente do Pluris Investments, grupo empresarial do qual faz parte a empresa Douro Azul, pioneira na realização de cruzeiros turísticos no rio Douro. Possui negócios nas mais diversas áreas, desde o turismo aos seguros, aos têxteis, à robótica, à biotecnologia, às viagens espaciais e mais recentemente à televisão. O que o leva a investir numa nova área de negócio? Como se prepara? Não tem medo de arriscar?
MF - Ser empreendedor é saber lidar e gerir o risco. Nem todos os negócios vão ter sucesso. E é importante estarmos conscientes disso mesmo. Porque só tendo disso consciência podemos trabalhar para minimizar os riscos. Fala-se muito dos empreendedores como pessoas que não têm medo de arriscar, como se fossem trapezistas sem rede. Não concordo. Um empreendedor é alguém que tem perfeita noção dos riscos que corre, mas que se sabe preparar para minimizar esses riscos para poder avançar.
Para isso é preciso muito trabalho de bastidores que o público não vê, e não se apercebe que por detrás de um sucesso de uma empresa estão centenas ou milhares de horas de estudo e de trabalho. Quando nos lançamos numa nova área de negócio, não o fazemos sem um trabalho prévio de análise do sector, das tendências, da concorrência, e, muito importante, da nossa capacidade de criar uma oferta diferenciada e de sucesso. Para quem vê de fora, parece muitas vezes algo que acontece espontaneamente. Mas há muito trabalho de preparação, precisamente porque sabemos e compreendemos os riscos inerentes a cada investimento.
FACM - Segundo a sua experiência de que forma podem as empresas beneficiar com ações socialmente responsáveis?
MF - O principal benefício é a criação de relações com a comunidade. Uma empresa não existe no vazio. Opera integrada em comunidades, e é importante que contribua, para lá dos resultados financeiros e criação de postos de trabalho, para a melhoria das condições de vida dessas mesmas comunidades.
FACM - Fala sobre dinheiro com os seus filhos? Que ensinamentos é que tem a preocupação de lhes transmitir?
MF - Vou tentando o meu melhor, as realidades e relação com o dinheiro são e serão sempre diferentes de criança para criança, pois para crianças que nasçam num ambiente de menos necessidade a dificuldade de lhes ensinar qual é o verdadeiro valor do dinheiro é muito mais difícil. Diria que para mim a minha maior dificuldade é que os meus filhos saibam que valor tem cada euro e quanto custa ganhá-lo.
FACM - Se estivesse hoje a começar a sua vida profissional, o que tinha feito de diferente?
MF - Teria feito exatamente o que fiz, arrisquei muito cedo seguir um caminho próprio com 16 anos, sentia-me preparado e com maturidade para tal e na verdade estava.
FACM - Que conselho daria aos jovens que pretendem começar a investir?
MF - O meu principal conselho é que se informem, e estudem bem os setores ou as áreas em que pretendem investir, não tenham vergonha de perguntar e testar a ideia, antes de se lançarem. Não significa isto que têm de se tornar os maiores especialistas do mundo no tema, mas têm de o conhecer, de preferência em primeira mão, e perceber como funciona. Uma ideia vale mais que ter excesso de capital para investir, por isso preocupem-se mais com a criatividade do que com o dinheiro, pois para uma excelente ideia o dinheiro aparece sempre.