“É fundamental que, no curto prazo, [as crianças] levem estes ensinamentos para a família, vizinhos, amigos, gerando cada vez mais agentes de mudança”
Planeamento e gestão do orçamento, sistemas e produtos financeiros, poupança, crédito, ética, direitos e deveres. Os temas dos conteúdos e atividades da plataforma educativa No Poupar Está o Ganho eram já muitos e variados, mas a Fundação Dr. António Cupertino de Miranda alargou-os a uma nova área: a Economia Circular. Explicações didáticas e adequadas ao ciclo de ensino, vídeos e sugestões de atividades são alguns dos novos recursos disponibilizados online, através de uma parceria com o Instituto do Banco Europeu de Investimento (IBEI). Conversámos com Luisa Ferreira, Responsável do Programa Social do IBEI, para descobrir mais sobre a parceria, sobre a Economia Circular e sobre os desafios que esta representa para o presente e futuro da sociedade.
No âmbito da parceria celebrada entre o IBEI e a Fundação Dr. António Cupertino de Miranda, a Plataforma do No Poupar Está o Ganho integrou, recentemente, novos conteúdos sobre “Economia Circular”, criados no âmbito do Projeto S.A.V.E 2.0, desenvolvido pelo Instituto do Banco Europeu de Investimento e pelo Museo del Risparmio (Museu da Poupança), em Torino. Em que contexto foram criados estes conteúdos?
Será porventura importante começar por mencionar que o Instituto do Banco Europeu de Investimento, criado em 2012, é o braço filantrópico do BEI, o Banco da União Europeia, vocacionado para o financiamento de projetos de investimento sólidos e sustentáveis situados maioritariamente na UE. Assim, a missão do Instituto está alinhada com a do Banco e naturalmente a temática da educação financeira foi inserida nas prioridades de intervenção do Instituto. Os conteúdos foram criados precisamente no âmbito do programa de educação financeira apoiado pelo Instituto do BEI, e dirigido aos jovens para que adquiram um conjunto de conhecimentos e competências para serem utilizados ao longo da sua vida na tomada de decisões informadas e eficazes sobre os recursos financeiros de que dispõem. Frequentemente, não só os grupos mais vulneráveis como também as comunidades mais abastadas carecem dessas competências, e a evidência empírica sugere que a ausência de conhecimentos financeiros básicos poderá ter contribuído para a crise do “subprime”. Nos últimos anos começámos a implementar no nosso programa de educação financeira uma estratégia mais abrangente de “competências para a vida”, passando a integrar não só conceitos chave sobre a gestão de recursos financeiros, mas também de recursos naturais. Compreender a “Economia Circular” integrá-la na vida de todos nós é fundamental num planeta de recursos limitados, pelo que é importante sensibilizar os jovens para o uso dos recursos naturais de forma responsável. Precisamos aprender a ser inovadores e garantir que tudo o que produzimos e consumimos possa ter uma ou várias vidas.
“Economia Circular”, “Economia Verde”, “Desenvolvimento Sustentável”, “Cidadania Económica”. Há quase um novo “dicionário” de conceitos que são fundamentais para o nosso futuro enquanto indivíduos e sociedade. Qual a importância de promovê-los junto da comunidade escolar?
Cada era tem os seus desafios, os quais vão impactar e condicionar o futuro que nós e as gerações vindouras vamos viver. Atualmente, é consensual que os maiores desafios do nosso tempo estão ligados às mudanças climáticas, à degradação da biodiversidade, à sustentabilidade versus consumo excessivo, bem como a desigualdades na distribuição do rendimento e no acesso a bens fundamentais como a educação, saúde ou tecnologias digitais, entre outros. Uma vez que as crianças que agora frequentam o ensino primário, secundário e superior serão os protagonistas desse futuro que tentamos “antecipar”, é essencial que compreendam os desafios que enfrentamos e que sejam ensinadas em como podem intervir e serem agentes de mudança para a criação de um futuro sustentável. E é fundamental que, no curto prazo, levem estes ensinamentos para a família, vizinhos, amigos, gerando cada vez mais agentes de mudança.
Que mecanismos tem utilizado o BEI para promover estas temáticas, sobretudo, junto dos mais jovens?
No BEI e, em particular, no Instituto BEI, não podemos deixar de sublinhar a importância da educação da juventude nestes incontornáveis temas como a forma de acedermos a um futuro mais luminoso, mais saudável e mais sustentável! E acreditamos no enorme potencial dos jovens – com os quais também aprendemos muito através dos programas que apoiamos. Neste momento, temos projetos em vários países europeus, nomeadamente, Itália e Grécia, e estamos em fase de lançamento no Chipre, visando a educação financeira e ambiental dos jovens, com a ideia de continuar a alargar o número de países abrangidos. Como já referi, está dentro dos nossos planos expandir a nossa área de intervenção e passarmos a falar em “competências para a vida” e, desta forma, ir para além do desenvolvimento de competências nas áreas de gestão de recursos financeiros e naturais e considerar outras competências. Por exemplo, temos outros projetos que diretamente ou indiretamente investem no capital humano e social dos mais jovens. Por exemplo, doamos o equipamento informático descontinuado do Banco a escolas e organizações sem fins lucrativos da União Europeia para promover a sua digitalização. Também trabalhamos para sensibilizar as crianças sobre a importância do Empreendedorismo Social, através de “Conversas” com repórteres da Rádio Miúdos, uma estação de rádio portuguesa feita por jovens. Financiamos e apoiamos, desde a sua criação, a IRIS (Incubadora Regional de Inovação Social), uma incubadora sediada no Porto, que criou, em 2021, um programa inovador para promover a inovação social junto de crianças: o Mudar o Mundo (mudaromundo.pt), que promove o envolvimento dos mais jovens nos desafios globais que irão enfrentar no futuro. Temos parcerias com universidades europeias, em que damos oportunidade aos alunos de participar em projetos de pesquisa e estágios, ou em cursos especiais para ampliar os seus conhecimentos. Também apoiamos jovens artistas da UE, através do nosso Programa de Desenvolvimento de Artistas, isto só para citar alguns exemplos.
Junto das crianças e jovens, que receptividade tem havido a estas temáticas e conteúdos, no âmbito do Projeto para os quais foram desenvolvidos?
Claro que vou dizer que a receptividade tem sido ótima! Os jogos e os vídeos do Projeto S.A.V.E 2.0 Viagem Virtual, foram disponibilizados em 2021, e para a cerimónia de lançamento, em Itália, convidámos três “influencers”, atraindo mais de 1 500 participantes. Durante esse ano, os conteúdos foram descarregados da “web” por mais de 13.000 estudantes e professores, e um festival de juventude organizado nestas temáticas contou com mais de 7.000 participantes. Isto são apenas alguns dos números do primeiro ano do “tour digital”. No entanto, este sucesso só foi possível porque cada programa foi “traduzido para a linguagem do público-alvo”, e foi ministrado por professores que beneficiaram de uma formação e estavam altamente motivados e bem preparados.
Sente que este tipo de conteúdos audiovisuais e dinâmicos, como os vídeos ou os jogos, são essenciais para que os Professores consigam explorar, em contexto de aula, conceitos que também para eles, muitas vezes, são novidade, por não se aplicarem ou não serem tão explorados quando os próprios eram estudantes?
Temos de acompanhar os tempos. Aprender pode e deve ser divertido e deve também promover a curiosidade e a inovação nos alunos. Um conteúdo lúdico e dinâmico, baseado em princípios de jogos, é sempre uma boa aposta para atrair os mais jovens e consolidar a sua aprendizagem. E a nossa experiência mostra que os professores também gostam de diversificar os conteúdos e as metodologias de ensino, sobretudo, se forem inovadoras. Se os alunos estiverem motivados os professores também vão estar motivados para se adaptarem a uma nova dinâmica em que eles próprios aprendem enquanto ensinam. Observámos, muitas vezes, que o ensino da educação financeira e ambiental também mudou a vida dos professores responsáveis pelo ensino desses conteúdos. E assim criamos um círculo de aprendizagem “win-win”!
No final de um dos novos filmes disponibilizados através da plataforma do No Poupar Está o Ganho (“Redução das desigualdades, inclusão social e cidadania económica. O que pode fazer?”), é dito: “Não há nada mais inclusivo do que o conhecimento”. Neste contexto, que importância atribui a programas escolares como o No Poupar Está o Ganho?
Como mencionei anteriormente, nós acreditamos inexoravelmente no poder da educação como meio de potenciar equidade no acesso a oportunidades (e, neste aspeto, estamos respaldados por um corpo de investigação muito extenso que comprova o inequívoco impacto da educação na equidade e coesão social)! Achamos esses programas escolares tão importantes que gostaríamos que houvesse muitos mais e acessíveis a todos. E dentro das nossas possibilidades faremos tudo para que isso aconteça.