“A aposta na literacia financeira pode influenciar o estado económico de um país”

Desde 2018 que o projeto de educação financeira “No Poupar Está o Ganho” tem sido implementado em várias escolas de Braga, contando de ano para ano, com a participação de um número cada vez maior de turmas. Carla Sepúlveda, Vereadora da Educação da Câmara Municipal de Braga, conta-nos neste “Opinião que Conta” as vantagens que identifica no projeto e na promoção da literacia financeira desde cedo.

Aproximando-se o final de mais um ano letivo, quais os principais benefícios extraídos para os alunos da participação neste projeto?

É com agrado e sentimento de orgulho que observamos o enorme sucesso da implementação deste projeto nas escolas de Braga. Já vai longo o historial da literacia financeira nas escolas do Município de Braga. Um longo caminho que percorremos em colaboração com toda a comunidade educativa e que se mostra profícuo não só a nível pedagógico, mas também na esfera da cidadania. A participação neste projeto é sinónimo do empenho na transmissão de bases no âmbito da literacia financeira que figura como ferramenta que informa e capacita, através da disponibilização de diversos recursos pedagógicos para o uso do dinheiro e contribuindo para a criação de uma nova geração de consumidores informados. São vários os benefícios extraídos para os alunos por via da participação neste projeto. De acordo com a opinião generalizada das comunidades escolares onde o projeto é executado, as nossas crianças e jovens tornam-se mais conscienciosas do valor do dinheiro; adquirirem competências de pensamento crítico na hora de usar a dita ‘mesada’ e apreendem uma gestão mais rigorosa das suas reais necessidades.

Junto das crianças e jovens, bem como dos seus Professores, que recetividade tem havido às temáticas e conteúdos desenvolvidos no âmbito do projeto? Alguma atividade, em particular, que possa destacar?

A recetividade por parte de Professores, crianças, jovens e respetivas famílias tem sido assaz positiva. Prova desta boa recetividade é a continuidade do projeto nas nossas escolas. De acordo com testemunhos dos Professores, as camadas mais jovens adquirem conhecimento na área da literacia financeira e não o ‘fecham’ em si. Isto é, a família acaba também por beneficiar do valor deste projeto. Sente-se uma partilha das crianças com a família que permite que o projeto seja cimentado de forma distinta e tenha um resultado alargado. O objetivo é que se criem hábitos positivos no âmbito da literacia financeira, mas, para tal, na nossa ótica, é imperativo que o núcleo familiar esteja envolvido e em sintonia com as competências trabalhadas no espaço escola. Destacamos, de forma particular, a atividade ‘Olimpíadas de Educação Financeira’. Há um especial interesse por esta atividade na medida em que se trata de uma competição a nível nacional e desperta o sentimento de saber mais para obter melhores resultados. Ressalto, nesta atividade, a competição saudável e o espírito de colaboração entre as crianças e jovens envolvidos neste processo competitivo.

Ao longo do ano, foram promovidos alguns momentos de competição interturmas, como o Concurso Final (cujos resultados serão conhecidos em junho) ou as Olimpíadas de Educação Financeira, que, em Braga, distinguiram como vencedor municipal o 4.º A da Escola Artística do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian. Acredita que esta competição saudável é benéfica à assimilação de aprendizagens e ao desenvolvimento do trabalho em equipa?

A competição saudável surte sempre efeitos profícuos a nível individual e/ou de grupo. É inegável que as competições interturmas geram um sentimento de compromisso e partilha entre os pares. A partir daqui estamos já a ‘ser felizes’ no que respeita ao fomento do trabalho de equipa. A competição, sempre que saudável, é uma metodologia pedagógica e muito vocacionada para a assimilação de aprendizagens. Esta conclusão chega-nos a partir de outros projetos que implementamos nas nossas escolas. A competição saudável gera valores fundamentais para uma sociedade motivada positivamente, mas também nos permite melhorar a aquisição de saberes e pode ser um dos meios mais eficazes no cimentar de conhecimento por parte das camadas mais jovens. Grosso modo, este é um projeto que gera processos dinâmicos de aprendizagem que, não há margem para dúvida, dão lugar a um trabalho de grupo profícuo e que pode mediar conflitos dentro da sala de aula.

Que papel acredita que a literacia financeira e projetos como o “No Poupar Está o Ganho” desempenham no futuro das crianças e jovens do município de Braga?

Apesar de estar convencida que esta realidade está a sofrer mutações, ainda se verifica que a sociedade vive de forma desenfreada e responde afirmativamente à cultura do consumismo. Para mudar hábitos e mentalidades é necessário desenvolver um trabalho a longo prazo que só resulta se tiver início logo nos primeiros anos da infância. A melhor forma de incutir mudanças na sociedade é incidir na escola. É a partir da Educação e Aprendizagem ao Longo da Vida que conseguimos alterar comportamentos. Nesta linha de raciocínio, é importante salientar que a relevância da educação financeira tem sido cada vez mais reconhecida a nível mundial porque se existir um grau mais elevado de literacia financeira (capacidade de fazer julgamentos informados e tomar decisões tendo em vista a gestão do dinheiro) os cidadãos irão gerir com maior responsabilidade os seus orçamentos familiares. As crianças de hoje serão os adultos de amanhã, por isso, acredito que estamos a trabalhar para que se tornem cidadãos mais informados e capacitados para gerir e decidir conscienciosamente na hora de serem chamados para tomar opções na esfera económica.

E para o desenvolvimento social e económico do município, da região e do país? Acredita que a promoção da literacia financeira, em diferentes faixas etárias, seja determinante?

A responsabilidade de ensinar as crianças a lidar com o ‘mundo da economia’ deve começar em ambiente familiar. Todavia, do pré-escolar às faixas etárias mais jovens, a escola tem um papel preponderante na transmissão de conhecimento e alteração de hábitos. Acredito que este é um trabalho conjunto entre pais, educadores e sociedade em geral para que possamos ter, no futuro, adultos financeiramente mais responsáveis. Como tal, a promoção da literacia financeira é um trabalho que fazemos agora para, no futuro, os resultados se evidenciarem nas práticas do quotidiano. Educamos agora para, a longo prazo, olharmos os resultados efetivos a nível local e nacional. A aposta na literacia financeira pode influenciar o estado económico de um país. É por considerar que este projeto faz a diferença no presente e futuro da sociedade em geral que lhe queremos dar continuidade nos próximos anos. Só cidadãos informados poderão construir sociedades melhores.

Para além da implementação do No Poupar Está o Ganho, que outras ações ou programas desenvolve a Câmara Municipal de Braga no âmbito do apoio à educação?

O Município de Braga tem um Projeto Educativo Local bastante abrangente e eclético. São vários os projetos que desenvolvemos nas mais diversas áreas de atuação. Todavia, os programas e/ou projetos que me parecem poder contribuir (de alguma forma) para a aplicação de alguns conhecimentos adquiridos a partir do projeto ‘No Poupar Está o Ganho’ são: - ‘Nós Propomos’, que visa promover a cidadania territorial e a inovação na educação geográfica através da realização de estudos de caso sobre problemas locais e a apresentação de propostas de resolução das problemáticas identificadas; ‘Parlamento dos Jovens’, que tem como principais desideratos promover a educação para a cidadania, despertar o interesse dos jovens para a participação cívica e política, desencadear capacidade de argumentação na defesa de ideias com respeito pelos valores da tolerância e potenciar o pensamento crítico nas mais distintas áreas da sociedade.

Estou certa de que a participação dos nossos alunos mais jovens em ambos os projetos identificados é intelectualmente mais honesta no que se prende com a tomada de decisões informada na esfera económica e financeira graças, em parte, aos conhecimentos adquiridos na área da literacia financeira. Os saberes complementam-se e unem-se quando é preciso pensar de forma crítica para tomar decisões que podem influenciar a comunidade.

Em suma, o meu ensejo é que, em parceria, possamos continuar a formar gerações na área da literacia financeira. Só com colaboração e compromisso se conseguem resultados positivos e geradores de mudança. O projeto ‘No Poupar Está o Ganho’ é exemplo disto mesmo.