“Considero que este conhecimento se revela de extrema importância, no desenvolvimento académico, pessoal e social das crianças e jovens”

O crescimento e sucesso do No Poupar Está o Ganho faz-se, em grande medida, com o apoio de autarquias e Comunidades Intermunicipais que apostam no projeto, enquanto ferramenta educativa de promoção da literacia financeira nos seus territórios.

Exemplo disso é a Comunidade Intermunicipal (CIM) do Ave, onde o No Poupar Está o Ganho tem tido, desde 2020, “muita recetividade por parte dos professores aderentes”. Quem o diz é Marta Coutada, Primeira Secretária do Secretariado Executivo Intermunicipal desta CIM.

Em entrevista ao nosso projeto, Marta Coutada aborda também a importância que a promoção da literacia financeira tem, no Ave, não tendo dúvidas ao afirmar: “o exercício pleno da cidadania passa também, irremediavelmente, pela literacia financeira”.

 

Leia a entrevista completa:

A Comunidade Intermunicipal (CIM) do Ave integra o “No Poupar Está o Ganho” desde 2020, mantendo-se como um parceiro muito ativo no projeto e bastante próximo da Fundação Dr. António Cupertino de Miranda. Que balanço faz, até agora, da participação da CIM neste projeto?

Antes de começar a responder a qualquer pergunta gostaria de agradecer o convite endereçado e manifestar a grande satisfação que tem sido colaborar com a Fundação Dr. António Cupertino de Miranda, durante estes anos, numa parceria que se tem vindo a consolidar e a revelar profícua, não só para a CIM do Ave, mas para todos os parceiros da Comunidade Educativa desta região envolvidos no projeto, nomeadamente: Municípios, Agrupamentos de Escolas, Professores, Alunos e Pais/Encarregados de Educação.

Esta nota prévia remete-me para a resposta à questão colocada, sendo, portanto, o balanço bastante positivo. Um bom indicador têm sido os crescentes pedidos por parte das turmas/escolas, na adesão ao projeto, muitas vezes, condicionados, pelos limites de financiamento.

Até ao presente ano letivo 22-23, o projeto foi financiado pelo Plano Integrado e Inovador de Combate ao Insucesso Escolar - PIICIE do Ave, no âmbito do Norte 2020/FSE. Este ano, tendo terminado o financiamento, foi um dos raros projetos, na área da educação, a ter continuidade, a custos próprios dos municípios, o que também é revelador, quer do reconhecimento dos bons resultados alcançados anteriormente, quer da importância da temática da literacia financeira para esta região.

Até ao momento, o “No Poupar Está o Ganho” já contou com mais de 6.800 alunos da CIM do Ave. Só este ano, estão envolvidos no projeto mais de 1.600 alunos e 88 turmas de sete municípios (Cabeceiras de Basto, Fafe, Guimarães, Mondim de Basto, Póvoa de Lanhoso, Vila Nova de Famalicão, Vizela). Qual a recetividade que sentem por parte dos Professores e dos alunos às atividades e conteúdos do “No Poupar Está o Ganho”?

Apesar de termos a total consciência das dificuldades que muitas escolas/professores enfrentam, nos dias de hoje, que se prendem, essencialmente, com os múltiplos desafios para os quais são convocados, quer ao nível dos projetos promovidos pelo Ministério de Educação, pelos Municípios, pela CIM, ou outros, quer ao nível das suas atividades diárias, temos sentido sempre muita recetividade por parte dos professores aderentes. Esta decorre da consciência crescente da importância e da grande ajuda deste projeto, na implementação do plasmado no “Referencial de Educação Financeira para a Educação Pré-Escolar, o Ensino Básico, o Ensino Secundário e a Educação e Formação de Adultos” (REF), documento orientador para a implementação da educação financeira em contexto educativo e formativo, e no “Plano Nacional de Formação Financeira” (PNFF), com objetivos plurianuais bem definidos no combate à iliteracia financeira. O projeto “No Poupar Está o Ganho” capacita os docentes e facilita-lhes materiais de formação e pedagógicos sobre, por exemplo, a gestão do orçamento familiar, o recurso ao crédito, os meios de pagamento, o sistema financeiro, as aplicações de poupança, entre outros.

Outro indicador desta recetividade tem sido a forte participação, por parte das turmas, nas diversas edições dos Campeonatos, Concursos e “Olimpíadas de Educação Financeira”, com excelentes resultados, conseguindo atingir, a nível nacional, muitos lugares de pódio, o que nos deixa muito felizes.

Que importância atribui à literacia financeira no desenvolvimento académico, pessoal e social das crianças e jovens?

Como mãe, é, muitas vezes, interessante e revelador perceber o relacionamento que os meus filhos têm com o dinheiro e o conhecimento que possuem em termos de literacia financeira. Transportando isto para um universo mais macro, considero que este conhecimento se revela de extrema importância, no desenvolvimento académico, pessoal e social das crianças e jovens.

Inevitavelmente, diariamente, somos invadidos pelos media, que nos bombardeiam com uma linguagem e conceitos, outrora, para quase todos desconhecidos, como são exemplo o “défice orçamental”, a “dívida pública ou soberana”, entre outros.

Paralelamente, a crise financeira colocou a limpo algo mais estruturante do que as questões relacionadas com o desequilíbrio das contas públicas, convocando para o espaço privado o desequilíbrio dos orçamentos familiares ou, melhor dizendo, a importância do equilíbrio das contas de cada agregado familiar.

De repente, vimo-nos “obrigados” a despertar para esta realidade e para estes conceitos, sem, no entanto, perceber se os entendemos de facto, sendo muito natural ouvir constantes perguntas, por parte das crianças e jovens, sobre estas matérias.

Neste sentido, cada vez mais, pais, educadores, alunos, população em geral têm de ter a capacidade de fazer julgamentos informados e tomar decisões efetivas, tendo em vista a gestão do dinheiro. Por isso, a literacia financeira é fundamental enquanto transmissão de conhecimentos para o desenvolvimento de competências que permitam responder, de forma correta, a situações do quotidiano que envolvem decisões financeiras, como os hábitos de poupança, o recurso responsável ao crédito, assim como a criação de hábitos de precaução e de planeamento do futuro, sensibilizando para situações de risco que podem afetar o rendimento.

Em suma, considero que o exercício pleno da cidadania passa também, irremediavelmente, pela literacia financeira, pela capacidade de ler, analisar, gerir e comunicar sobre a condição financeira pessoal e a forma como esta afeta o bem-estar material.

Nos municípios abrangidos pela CIM do Ave, acredita que a literacia financeira, independentemente da faixa etária, ainda é um desafio?

No seguimento do que referi anteriormente, a literacia financeira, ou a falta dela, desempenha um papel extremamente importante no quotidiano de todos nós, independentemente da idade, profissão ou estatuto social. Correndo algum risco, atrevo-me mesmo a afirmar que a prosperidade e o equilíbrio de uma sociedade correspondem ao grau de literacia financeira dos seus cidadãos. É, por isso, fundamental entender conceitos como os de dívida, poupança, orçamento ou investimento, em todas as idades. Hoje, a necessidade de perceber o custo do dinheiro, os seus caminhos transacionais e, sobretudo, a bipolaridade consumo-poupança, passou a ser importantíssima e ainda se constitui como um grande desafio.

Neste contexto, sente que a promoção da literacia financeira pode contribuir igualmente para o desenvolvimento económico e social destes territórios?

Por tudo que acabei de dizer, sem dúvida. Além disso, num território como o do Ave, caracterizado por uma forte atividade industrial, económica e empresarial, as tomadas de decisões financeiras, nomeadamente, sobre financiamento e performance das empresas, são potenciadas e beneficiadas pelo conhecimento das diversas ferramentas financeiras disponíveis, pelo que a literacia financeira não só da população em geral e da população escolar (desde os primeiros anos), mas também dos empresários e gestores poderá ser uma ferramenta essencial para o sucesso das empresas.

Além disso, a promoção da literacia financeira poderá traduzir-se em mudanças de comportamentos e decisões que potenciam a sobrevivência, a poupança e a eventual prosperidade, quer individual, quer coletiva, a curto, médio e longo prazo.

Para além da implementação do No Poupar Está o Ganho, que outras ações ou programas desenvolve a Comunidade Intermunicipal do Ave no âmbito da educação? Sentem que este trabalho junto dos mais novos é importante para aproximá-los do seu território e origens?

A Educação sempre foi um desígnio e uma aposta da CIM do Ave, muito apoiada pelo seu Conselho Intermunicipal de Educação, constituído pelos Srs. Vereadores da Educação dos oito municípios que integram esta Comunidade Intermunicipal. Neste sentido, ao longo dos últimos anos, a CIM do Ave implementou um conjunto de projetos, nos mais diversos domínios da Educação, na sua generalidade financiados pelo Plano Integrado e Inovador de Combate ao Insucesso Escolar - PIICIE do Ave, no âmbito do Norte 2020/FSE, nomeadamente, e a título de exemplo:

  1. Ações específicas de âmbito intermunicipal de literacia financeira e empreendedorismo, através dos seguintes projetos: “No Poupar está o Ganho”; “Ter Ideias para Mudar o Mundo” e “Escolas Empreendedoras IN.Ave”;
  2. Ações de reforço das intervenções intermunicipais destinadas a melhorar o sucesso educativo dos conteúdos pedagógicos ao nível das disciplinas nucleares (Português e Matemática), através dos projetos “Plataforma Mais cidadania”, “Literattus” e “Hypatiamat”;
  3. Ações que proporcionem o acesso a equipamentos e recursos pedagógicos digitais adequados à promoção da qualidade das aprendizagens, através do projeto “Salas do Futuro”;
  4. Ações de envolvimento e de formação parental, centradas no envolvimento na educação dos filhos, através do projeto “Educação Parental”;
  5. Ações de reforço de apoio aos alunos, nomeadamente, através de equipas multidisciplinares que assegurem respostas multinível;
  6. Ações que promovam o conhecimento científico e tecnológico, através do projeto “Curtir Ciência”;
  7. Ações de coordenação geral, monitorização e avaliação dos PIICIE e das operações neles integradas, através dos projetos: “Pisa4Schools”; “SANQ – Sistema de Antecipação da Necessidade de Qualificação”; “Monitorização &Avaliação;
  8. Entre outros.

Paralelamente a estes projetos, a CIM do Ave desenvolve ainda, na área da educação, ações de trabalho colaborativo, que potenciam o trabalho em rede entre os atores educativos, através das suas Redes e Grupos de Trabalho, nomeadamente:

- RIBMAVE – Rede Intermunicipal das Bibliotecas Municipais do Ave;

- Rede dos Centros Qualifica do Ave;

- Rede de Psicólogos do Ave;

- Rede da Oferta Formativa do Ensino Profissional

Como se pode verificar, não é um trabalho isolado, mas que implica muito envolvimento e colaboração de todos os agentes da Comunidade Educativa do Ave, sem os quais nada disto seria possível e a quem (aproveitando a oportunidade) gostaria de agradecer publicamente. Encontrando-nos a preparar o próximo período de programação 2030, muito em breve, promoveremos, novamente, o envolvimento e a auscultação de todos os intervenientes na área da educação, de forma a termos uma estratégia participada, com o contributo de todos e para todos, de forma inclusiva. Temos como objetivo continuar a posicionar a região do Ave como uma referência, ao nível da educação nacional, com a atenção necessária para a promoção do bem-estar dos nossos alunos e professores, de forma a que se sintam felizes no seu território.