"Comprem Menos"

Há tempos foi exibida na televisão uma série de documentários muito interessantes sobre os grandes museus da Europa. Num deles participou a estilista inglesa Vivienne Westwood que surgiu no ecrã vestida com uma simples t-shirt branca onde se lia: Buy less.

Vinda de uma prestigiada designer de moda que se tem afirmado pela originalidade no modo como procura associar ideias às suas criações, aquela inesperada mensagem - Comprem menos - produzia o efeito pretendido: chamar a atenção, surpreender, fazer pensar. Consultando a internet, verifiquei que se integrava numa campanha lançada com intenções bem claras: alertar para a necessidade de reflectirmos sobre o consumo por impulso. Em alternativa, propunha comportamentos que evitem o desperdício e contribuam para a sustentabilidade do nosso planeta, a nossa casa comum. A estilista aconselhava-nos a escolher bem para conseguirmos comprar apenas o que de facto precisamos e que ofereça garantias de qualidade e durabilidade.

 A campanha parecia concebida para um programa de educação financeira, e podia incluir a mensagem escolhida para título do projeto “No Poupar Está o Ganho”.

Neste momento tão difícil em que o mundo se confronta com uma pandemia, aquele apelo à poupança e à gestão equilibrada dos recursos materiais ganhou ainda maior significado, tanto mais que ninguém ignora que o confinamento exigido pela Covid-19 está a afetar profundamente a nossa economia e a gerar uma crise financeira.

A experiência de confinamento dá-nos ocasião para nos centrarmos naquilo que mais valorizamos, no que consideramos mais importante na vida e ao qual tantas vezes não prestamos a devida atenção. O convívio próximo e direto com a nossa família, com os nossos amigos, com os nossos colegas de trabalho. A saúde, sem dúvida. Temos absoluta necessidade de recursos que garantam um sistema de saúde bem organizado, preparado para dar respostas adequadas em situações tão difíceis como a que estamos a viver. Na área da educação tornaram-se evidentes os benefícios e as potencialidades do ensino a distância, recorrendo aos recursos digitais. O acesso à Internet e os equipamentos que a permitem utilizar são hoje encarados pelas famílias como bens de primeira necessidade.

No domínio da educação financeira e da formação recorrendo aos recursos digitais, a Fundação Dr. António Cupertino de Miranda tem já uma larga experiência, graças ao projeto “No Poupar Está o Ganho”. Trata-se de um projeto ambicioso, estruturado com segurança e consistência, que tem vindo a envolver um número crescente de crianças, jovens e adultos e a abranger um vasto conjunto de Municípios.

A eficácia da estratégia participativa dirigida às escolas decorre de vários fatores: o recurso ao conhecimento científico disponibilizado pela Universidade do Porto (através da Faculdade de Economia - FEP.UP); o facto de ter constituído uma rede de formação que oferece cursos presenciais a docentes e acompanhamento continuado por formadores credenciados; desafios formativos especificamente dirigidos ao contexto escolar; um portal com informação acessível e instrumentos adequados à compreensão dos complexos conceitos da área financeira; produção e disponibilização de recursos para trabalho em sala de aula com alunos dos vários níveis educativos, desde cadernos a vídeos e livros em formato digital.

Os resultados, comprovados por avaliação externa, salientam os princípios que regem a educação financeira da Fundação: rigor e objetividade, adequação às características dos diferentes segmentos do público docente e discente, sustentabilidade. De algum modo as circunstâncias adversas alteraram a nossa ordem de prioridades e tornaram ainda mais relevantes as competências que permitem a cada pessoa distinguir entre o essencial e o acessório. Já sabíamos e agora tornou-se ainda mais premente a necessidade de preparar cidadãos que, no presente, saibam como devem gerir os seus recursos para assegurar o bem-estar familiar e social, sem comprometer o futuro. Daqui se infere uma conclusão evidente: não podemos deixar a educação financeira ao acaso. Mas também sabemos que neste domínio o nosso país pode contar com a ação da Fundação Dr. António Cupertino de Miranda.

 

Isabel Alçada

Professora Universitária

Consultora para a Educação de Sua Excelência o Senhor Presidente da República